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Entrevista com João Emanuel Carneiro, autor da próxima novela das nove: A Favorita. Fonte: O Estado de SP


'Novela é um milagre diário'

Promovido à faixa das 9, autor fala sobre A Favorita e a luta para produzir 200 capítulos

A responsabilidade é grande. No dia 2 de junho, estréia A Favorita, nova novela das 9 da Globo, que marca a entrada do autor carioca João Emanuel Carneiro no time das estrelas da teledramaturgia. Ele está calmo, embora sinta-se mais exposto no horário nobre.

Há um ano, ele escreve a história que gira em torno de Donatela (Cláudia Raia) e Flora (Patrícia Pillar) no seu aconchegante apartamento de frente para a Praia do Leblon. João Emanuel, um dos roteiristas do filme Central do Brasil, traz no currículo o mérito de ter recuperado a audiência do horário das 7 com dois sucessos (Da Cor do Pecado e Cobras & Lagartos). Ele se junta a Gilberto Braga, Glória Perez, Aguinaldo Silva, Sílvio de Abreu, Benedito Ruy Barbosa e Manoel Carlos no grupo de autores responsáveis pelo horário com os maiores índices de audiência da TV.

A pressão do ibope não abala João Emanuel. O que tira o autor do sério é o tempo de duração das novelas. “Duzentos capítulos é demais. Novela é uma coisa impossível que é feita não se sabe como. É impossível escrever, dirigir, atuar 200 horas. E, no entanto, se faz. É o impossível que existe. É um milagre diário.”

Qual é o ponto central de A Favorita?

É a história de duas mulheres. Dois pontos de vista de uma mesma história. Qualquer uma das duas pode estar falando a verdade. Tanto Donatela (Cláudia Raia) quanto Flora (Patrícia Pillar). Cabe a mim, vendo esta novela fluir, decidir quem é a assassina e quem é a vítima. No momento eu não sei quem diz a verdade.

Como se desenvolve a história?

As duas formavam uma dupla sertaneja na infância e ficam juntas até a adolescência. Num show, Donatela conhece Marcelo, um herdeiro milionário. Eles se casam. Mas ele acaba tendo um caso e uma filha com Flora (Patrícia Pillar). A filha é Lara (Mariana Ximenes). Mas ele é assassinado.

A novela começa com Flora saindo da cadeia depois de cumprir 18 anos de pena sob a acusação de ter matado o amante. Ela sai querendo provar a sua inocência e mostrar que a assassina é Donatela, que acabou criando Lara. O caso Isabella tem a ver com a novela. Na novela, o público não sabe quem está dizendo a verdade. Se Flora ou Donatela. Na vida real, a gente tem que decidir se acredita ou não no pai e na madrasta da menina. Está todo mundo julgando. É o que Hitchcock dizia. As pessoas querem mais é julgar do que descobrir a verdade.

Mas a novela também fala muito em ética, não?

Fala de uma sensação que eu tenho no dia-a-dia: eu não sei se o meu gerente de banco está falando a verdade quando me manda aplicar em determinado fundo; eu não sei se os nossos governantes estão mentindo ou não.

Muitos personagens terão que optar: manter a ética deles ou não. O jovem pobre que namora uma milionária deve pedir dinheiro emprestado para ajudar o pai desempregado? Será que ele não deve tomar dinheiro dela, que gasta R$ 5 mil em uma noite? A Catarina, (Lília Cabral) que é martirizada pelo marido (Jackson Antunes), deve trai-lo ou não? A outra irmã dela é a Lorena (Gisele Fróes), casada com o Átila (Chico Diaz). Ele é apaixonado pela Cida (Cláudia Ohana), irmã de Lorena. Ele vai transgredir? O tempo todo tem esse tipo de questionamento. Os personagens estão nesse limite.

Por que você escolheu São Paulo como cenário?

Minha idéia é mostrar um Brasil que não é miserável, favelado ou nordestino. O Brasil é muito plural. A novela se passa em São Paulo, mas tem um núcleo operário formado por uma classe média baixa. A dona da fábrica de papel, que fica a meia hora da capital, é Irene (Glória Menezes), que na juventude ficou entre dois homens. Gonçalo (Mauro Mendonça) e Copola (Tarcísio Meira). Ela se casa com Gonçalo. Copola se transforma em um líder trabalhista de esquerda e mora na vila operária da fábrica. Lara, neta de Irene, namora Cassiano (Thiago Rodrigues), neto do Copola.

Qual a diferença entre escrever para cinema e para TV?

É a mesma entre tomar um chope (cinema) e tomar um ácido (novela). Fazendo novela não tem como fazer mais nada. Na TV, o autor não tem como usar truque. Ou tem talento ou não tem.

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